IPES/IBAD na visão de Dreifuss
A empresa multinacional Hanna Mining,
atuante na exploração de minérios, na década de 1960, forneceu caminhões para
as tropas militares de Minas Gerais, responsáveis por dar início ao golpe civil-militar
de 1964 contra o governo nacionalista-reformador de João Goulart. Ela defendia
o contra-ataque às “latentes ameaças comunistas” na América Latina que
representariam uma ameaça aos interesses comerciais americanos.
Essa empresa atuava no Brasil, assim como
outras estrangeiras, que foram estimuladas a adentrar na economia nacional,
principalmente, a partir do programa desenvolvimentista de Juscelino Kubitchesk
(1956-1961). A sua proposta de aceleração da economia de seu governo baseou-se
no argumento de que não haveria uma acumulação primitiva de capital,
tecnologia, know-how e maquinário que
pudessem propiciar a industrialização em bases nacionais. Por isso, setores
incipientes como, por exemplo, o da indústria automobilística, construção
naval, produtos químicos e farmacêuticos e outros receberam apoio governamental
para trazerem tecnologia, técnicas gerenciais e ajuda financeira de fora.
O Plano de Metas encontrou um obstáculo no
Congresso Nacional, pois o Parlamento era composto de forças conservadoras
representantes dos interesses agroexportadores. Além disso, ele funcionava
dentro da lógica populista e a de satisfação dos diferentes interesses. A
solução para esses impasses estruturais da máquina governamental foi a criação
de um corpo técnico, de empresários de ponta e oficiais militares, que tiveram
as suas atividades sob sigilo.
Tal corpo foi concebido como uma administração
paralela capaz de contornar as raízes históricas do poder e de passar despercebidas
as críticas por seu caráter de “perícia apolítica” e “racionalidade técnica”.
Os Grupos Executivos permitiram que os interesses do capital multinacional e
associado governassem a política econômica (uma abordagem empresarial para os
problemas de desenvolvimento) desviando-se assim do controle de líderes
populistas. Vale lembrar que as grandes corporações nacionais, em sua maioria,
já eram associadas com multinacionais.
Os setores responsáveis pelo discurso
político entrincheirado na administração paralela e nas organizações classistas
de empresários (ferramentas de pressão) no período do presidente J.K. buscariam
ascender ao poder no governo de Jânio Quadros. Tais setores conseguem êxito em
sua empreitada. Dessa forma, conseguem participar de diversos Ministérios
dentro de uma estrutura de poder populista.
Todavia, a urbanização e a industrialização
modificam os contornos políticos e ideológicos vigentes. No final da década de
1950, o controle exercido pelo populismo, que é feito sobre as massas através
da satisfação dos trabalhadores com ganhos sociais circunscritos as rédeas do
Estado (ainda que esses possam ser interpretados como parciais por alguns
historiadores) e outros mecanismos, perde força em suas medidas distribuidoras devido
à crise econômica gerada pelos gastos com o crescimento “acelerado” de J.K. Nesse
período há um florescer das atividades sindicais, de organizações de
trabalhadores e intensa mobilização estudantil. Posteriormente, o terreno para
a luta de classes, encoberta no Estado Novo, no governo de João Goulart
torna-se sensível quando a pressão popular sai da órbita do populismo e atua de
forma autônoma.
Quando Jânio Quadros resolve renunciar o
mandato, ele está colocando em cheque projetos econômicos: o que favorecia os
interesses do capital multinacional e associado contra aquele que através da ascensão
de seu vice ao poder desembocaria na implementação de um programa de
desenvolvimento nacional-reformista. A fama do novo presidente, pelo ponto de
vista dos conservadores, era de ser reconhecido como um esquerdista perigoso
com inclinações ao comunismo.
Após a posse de Jango como presidente, no
sistema do parlamentarismo, foi criado o Instituto de Pesquisas e Estudos
Sociais, o IPES, com ramificações pelo território nacional, composto por
indivíduos dos setores empresariais, políticos e militares. O seu principal
objetivo era disseminar os valores do capitalismo, do livre mercado e do
anticomunismo na sociedade brasileira, para enfrentar as ideias esquerdizantes.
Segundo as suas avaliações essas ideias avançavam perigosamente no país desde o
governo de Juscelino, ganhando força inequívoca com a presidência de Goulart. O
instituto possuía apoio financeiro do Instituto Brasileiro de Ação Democrática,
o IBAD, fundado em 1959, que recebia fundos de empresas brasileiras e dinheiro
da CIA (Central Intelligence Agency)
norte-americana. Além disso, o IBAD ilegalmente patrocinava políticos
brasileiros. Ambos os institutos contavam com o apoio privado nacional e de
grandes corporações multinacionais. O IPES fazia parte de um sistema
internacional atuante na América Latina a partir de meados dos anos de 1950 e
coordenado por agências norte-americanas como o Latin American Information Committe (LAIC) e o Committee for Economic Development (CED).
Bibliografia:
DREIFUSS, Rene Armand. 1964 : a
conquista do Estado: ação política, poder e golpe de classe. Petrópolis,
RJ : Vozes, 1981.
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