sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Ação empresarial na realização golpe civil-militar

IPES/IBAD na visão de Dreifuss

   A empresa multinacional Hanna Mining, atuante na exploração de minérios, na década de 1960, forneceu caminhões para as tropas militares de Minas Gerais, responsáveis por dar início ao golpe civil-militar de 1964 contra o governo nacionalista-reformador de João Goulart. Ela defendia o contra-ataque às “latentes ameaças comunistas” na América Latina que representariam uma ameaça aos interesses comerciais americanos.
   Essa empresa atuava no Brasil, assim como outras estrangeiras, que foram estimuladas a adentrar na economia nacional, principalmente, a partir do programa desenvolvimentista de Juscelino Kubitchesk (1956-1961). A sua proposta de aceleração da economia de seu governo baseou-se no argumento de que não haveria uma acumulação primitiva de capital, tecnologia, know-how e maquinário que pudessem propiciar a industrialização em bases nacionais. Por isso, setores incipientes como, por exemplo, o da indústria automobilística, construção naval, produtos químicos e farmacêuticos e outros receberam apoio governamental para trazerem tecnologia, técnicas gerenciais e ajuda financeira de fora.
   O Plano de Metas encontrou um obstáculo no Congresso Nacional, pois o Parlamento era composto de forças conservadoras representantes dos interesses agroexportadores. Além disso, ele funcionava dentro da lógica populista e a de satisfação dos diferentes interesses. A solução para esses impasses estruturais da máquina governamental foi a criação de um corpo técnico, de empresários de ponta e oficiais militares, que tiveram as suas atividades sob sigilo.
   Tal corpo foi concebido como uma administração paralela capaz de contornar as raízes históricas do poder e de passar despercebidas as críticas por seu caráter de “perícia apolítica” e “racionalidade técnica”. Os Grupos Executivos permitiram que os interesses do capital multinacional e associado governassem a política econômica (uma abordagem empresarial para os problemas de desenvolvimento) desviando-se assim do controle de líderes populistas. Vale lembrar que as grandes corporações nacionais, em sua maioria, já eram associadas com multinacionais.
   Os setores responsáveis pelo discurso político entrincheirado na administração paralela e nas organizações classistas de empresários (ferramentas de pressão) no período do presidente J.K. buscariam ascender ao poder no governo de Jânio Quadros. Tais setores conseguem êxito em sua empreitada. Dessa forma, conseguem participar de diversos Ministérios dentro de uma estrutura de poder populista.
    Todavia, a urbanização e a industrialização modificam os contornos políticos e ideológicos vigentes. No final da década de 1950, o controle exercido pelo populismo, que é feito sobre as massas através da satisfação dos trabalhadores com ganhos sociais circunscritos as rédeas do Estado (ainda que esses possam ser interpretados como parciais por alguns historiadores) e outros mecanismos, perde força em suas medidas distribuidoras devido à crise econômica gerada pelos gastos com o crescimento “acelerado” de J.K. Nesse período há um florescer das atividades sindicais, de organizações de trabalhadores e intensa mobilização estudantil. Posteriormente, o terreno para a luta de classes, encoberta no Estado Novo, no governo de João Goulart torna-se sensível quando a pressão popular sai da órbita do populismo e atua de forma autônoma.
  Quando Jânio Quadros resolve renunciar o mandato, ele está colocando em cheque projetos econômicos: o que favorecia os interesses do capital multinacional e associado contra aquele que através da ascensão de seu vice ao poder desembocaria na implementação de um programa de desenvolvimento nacional-reformista. A fama do novo presidente, pelo ponto de vista dos conservadores, era de ser reconhecido como um esquerdista perigoso com inclinações ao comunismo.
    Após a posse de Jango como presidente, no sistema do parlamentarismo, foi criado o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, o IPES, com ramificações pelo território nacional, composto por indivíduos dos setores empresariais, políticos e militares. O seu principal objetivo era disseminar os valores do capitalismo, do livre mercado e do anticomunismo na sociedade brasileira, para enfrentar as ideias esquerdizantes. Segundo as suas avaliações essas ideias avançavam perigosamente no país desde o governo de Juscelino, ganhando força inequívoca com a presidência de Goulart. O instituto possuía apoio financeiro do Instituto Brasileiro de Ação Democrática, o IBAD, fundado em 1959, que recebia fundos de empresas brasileiras e dinheiro da CIA (Central Intelligence Agency) norte-americana. Além disso, o IBAD ilegalmente patrocinava políticos brasileiros. Ambos os institutos contavam com o apoio privado nacional e de grandes corporações multinacionais. O IPES fazia parte de um sistema internacional atuante na América Latina a partir de meados dos anos de 1950 e coordenado por agências norte-americanas como o Latin American Information Committe (LAIC) e o Committee for Economic Development (CED).  

Bibliografia:

DREIFUSS, Rene Armand. 1964 : a conquista do Estado: ação política, poder e golpe de classe. Petrópolis, RJ : Vozes, 1981.

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